Amor entre Guerras
A cavalaria desferia golpes de sabre a eito e a populaça arremessava‑lhe pedras e pedaços de ferro arrancados dos gradeamentos metálicos das árvores do boulevard. À esquerda, um polícia pontapeava selvaticamente uma mulher grávida, caída no chão. Um homem que estava perto interveio, atirando‑se ao agente, que logo o atacou com o cassetete. Miguel acorreu em socorro da senhora, ajudando‑a a levantar‑se e evitando que fosse espezinhada. Um guarda montado disparava sobre a multidão.
– Assassinos! Assassinos! Parem! – Alexandrine, fora de si, gritava enraivecida.
Miguel sentiu um aperto no coração: o militar montado virava‑se na direção da voz dela, com o revólver em riste. Atravessou‑se à frente do cavalo, que relinchou assustado, elevando‑se nas patas traseiras, a bala perdendo‑se no ar. O cavaleiro aguentou‑se na sela e recuperou o equilíbrio, à medida que o animal caía, de novo, sobre as patas dianteiras. Disparou outro tiro. Falhou.
– Leva‑a daqui! – gritou Miguel para Oliveira, que já lhe agarrara no braço e a puxava para a segurança de um prédio próximo. Arrastada, Alexandrine olhava Miguel com uma expressão de terror no rosto.
– Cuidado! – gritou.
Miguel virou‑se e viu que o homem montado lhe apontava a arma à cabeça. Ouviu‑se um estalido seco e pensou que chegara o fim.